Falar sobre a importância dos Beatles para o rock and roll
é chover no molhado. No entanto, a passagem do “Fab Four” pelo mundo não rendeu
apenas hits conhecidos mundialmente ou álbuns geniais. Além de ajudar na
globalização do rock, John, George, Ringo e Paul também influenciaram de
diversas maneiras – e diferentes níveis – o mundo pop comercial.
A seguir tentarei listar algumas das principais inovações
ou conceitos criados por eles ou por causa deles:
(A lista não segue nenhuma ordem de colocação, são apenas
fragmentos impossíveis de serem qualificados por sua real importância).
Divulgação (marketing):
Nenhum outro grupo até então
havia usado tanto a mídia a seu favor. Com jogadas de marketing sensacionais
Brian Epstein ajudou os Beatles a emplacar um disco atrás do outro nas paradas
dos Estados Unidos e atingir os mais diversos públicos.
Desde então a propaganda é a
alma do negócio.
Shows em estádios:
Se hoje qualquer grande nome da
música se apresenta em grandes estádios pelo mundo devem muito aos Beatles.
A ideia que inicialmente foi
considerada absurda deu muito certo. Com uma demanda gigantesca de fãs que
queriam vê-los ao vivo nos EUA o empresário Brian Epstein agendou uma
apresentação em Agosto de 1965 no Shea Stadium, Nova York. Com ingressos entre
$4,50 e $5,75 dólares, uma multidão de aproximadamente 55.000 pessoas
assistiram a apresentação antológica que durou apenas 30 minutos e quebrou
vários recordes da indústria.
Videoclipes musicais:
Até os anos 60 somente artistas
de Jazz haviam gravado pequenas suítes para fins comerciais. O mais próximo do
conceito de videoclipes hoje tão difundido (e fundamental para sobrevivência da
maioria dos artistas) eram os filmes do Elvis e dos próprios Beatles que
traziam pequenos trechos musicais.
Foi quando estavam sobrecarregados
de trabalho que os Beatles tiveram a ideia de gravar um vídeo promocional de
suas novas canções e enviar para as emissoras de TV nos EUA. Evitando a
desgastante rotina de viagens e aparições ao vivo nos principais programas de
auditório.
De maneira simples gravaram em
um jardim o clipe musical do single “Paperback Writer”/”Rain” em 1966, sendo um
sucesso absoluto.
Pausa nas turnês e shows:
Nos anos 60 era impensável um
artista lançar um disco e não sair num circuito de shows pré-determinado em
contrato para ajudar a promover seu trabalho.
Tecnicamente isto é ainda hoje
fora dos padrões da indústria. Afinal, onde já se viu um grupo no auge
abandonar os palcos? Mas foi exatamente isso que eles fizeram em 1966.
O que poderia ter sido um suicídio
para a carreira da maioria dos artistas na verdade só ajudou a enriquecer o
trabalho de estúdio da banda.
Técnicas de estúdio:
Embora não sejam creditados
pela maioria de suas criações. Os Beatles vinham com as ideias e George Martin
executava. Com a ajuda do produtor e do engenheiro de som Geoff Emerick – e
muita criatividade – criaram (ou desenvolveram) varias técnicas como: ADT,
feedback, loops, colagens sonoras, compressão, mudança de fase, overdubs,
equalização e microfonia.
Álbum conceitual:
Apesar dos Beach Boys terem
lançado Little Deuce Coupe em 1963 e o Mothers of Invention seu Freak Out! em
1966, foram os Beatles e o produtor George Martin que bolaram o arquétipo do
que deveria ter sido um álbum conceitual: Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band.
É fácil de explicar – apesar de
ter uma temática definida Little Deuce Coupe está mais para um apanhado de
canções sobre automóveis, enquanto Freak Out! é uma tiração de sarro sobre a
sociedade americana mas sem nenhuma ideia ou historia definida.
No fim, a ideia inicial de gravar um álbum
inteiro sobre “A Banda dos Corações Solitários do Sargento Pimenta” foi
abortada, mas excluindo algumas historias tematicamente isoladas o álbum foi
milimetricamente pensado para encaixar-se como um quebra-cabeça.
Os Beatles transformavam música
pop em arte de vanguarda.
Letras no encarte do disco:
Entre as muitas inovações
desenvolvidas em Sgt. Pepper’s está à inclusão das letras no encarte do disco.
Isso mesmo, algo hoje padrão para a maioria dos artistas foi parte do conceito
criado para uma melhor absorção da historia por trás do álbum.
Selo próprio:
No final de 1967 foram à
primeira banda a ter seu próprio selo – a Apple Records.
A verdade é que nos anos 60 os
grupos eram reféns de gravadoras, no caso dos Beatles era a gigante EMI quem
detinha o direito sobre seus álbuns.
Com uma série de manobras
jurídicas confusas conseguiram fundar o próprio selo e desvincular-se
parcialmente da EMI que ainda conseguiu manter o direito de distribuição do que
eles gravassem pela Apple.
Um marco na indústria quando
uma banda tornou-se maior e mais poderosa que sua própria gravadora.
Transmissão mundial:
Os Beatles foram os primeiros
artistas a terem um programa transmitido via satélite para todo o mundo.
Em 1967 participaram do
especial Our World, onde contavam com a participação de celebridades de varias
nacionalidades numa mensagem de paz. Usando quatro satélites situados em
diferentes espaços da orbita terrestre o show poderia ser assistido por
qualquer pessoa nos quatro cantos do mundo.
John Lennon compôs “All You Need Is Love”
especialmente para o encerramento de Our World – enquanto Paul trouxe “Baby,
You’re a Rich Man”.
Migração da audiência para as
FMs:
Nos EUA a maior audiência nos rádios
estava voltada para as estações AM. Com toneladas de propaganda elas
manipulavam a indústria para que se produzissem singles de apenas 3 minutos.
Dessa forma mantinham uma rotina restrita de tempo entre música e propaganda.
Ou seja, limitava
artisticamente as bandas a produzir músicas de tiro-curto ou as obrigava a
editar canções maiores para se adequar aos padrões.
Com o single de “Hey Jude”
batendo na casa dos 7 minutos e meio, as AMs simplesmente cortavam a canção
pela metade, enfurecendo o público que esperava ansiosamente pelo coro no meio
da canção.
Por outro lado as FMs
mostravam-se dispostas a executar a canção na integra além de prometer programações
completas sem intervalo. Atraídos pela possibilidade de ouvir suas músicas
favoritas sem cortes e evitar os anúncios massivos a audiência americana se
voltou para as FMs. Contribuindo com a quebra do monopólio das rádios AMs.
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